Comunicação Não-Violenta – como aplicá-la com as crianças?

O ato de se comunicar é uma habilidade essencial que o ser humano desenvolve no seu processo de crescimento e ela permite muito mais do que apenas falar, mas também estabelecer acordos, transmitir ensinamentos e gerar vínculos com outras pessoas.

Comunicar-se com crianças é uma habilidade ainda mais importante, já que por estarem em um processo constante de desenvolvimento (neurológico, motor e social) os pequenos necessitam receber empatia e paciência no momento de interação com o próximo.        

Crianças que crescem em um ambiente de diálogo e compreensão, têm um impacto muito positivo no desenvolvimento cognitivo.

Inspirado pela postura e modos de se comunicar de Gandhi e Martin Luther King, Marshall Rosenberg, renomado psicólogo estadunidense, desenvolveu uma teoria conhecida como Comunicação Não-Violenta. Essa teoria tem impactado milhares de pessoas, que aprenderam a se relacionar melhor com seus filhos, pais, colegas de trabalho e amigos.

Nesse artigo, iremos esclarecer o que é a famosa Comunicação Não-Violenta e como ela pode ser aplicada nos diálogos com as crianças.

O que é a Comunicação Não-Violenta ?

Com o objetivo de gerar mais compreensão e harmonia nos diálogos do cotidiano, a comunicação não-violenta é uma prática que preza por escolher as palavras ideais e maneiras certas de interagir com o próximo, evitando agredi-lo por meio de expressões negativas.

Algumas frases e formas de responder outras pessoas quando elas tentam dialogar conosco, podem estar carregadas de: falta de empatia, julgamentos e avaliações desmedidas.

Por exemplo, certo dia você chega em casa e encontra os brinquedos das crianças todos espalhados pelo chão. Fica nervoso, pois já havia explicado para os pequenos que é necessário guardá-los após brincar e então diz:

“Você é um imprestável! Nem os brinquedos que te peço para guardar você consegue fazer! “

Essa frase, carregada de emoções negativas, irá chegar até o receptor da mensagem de forma agressiva, já que você está atribuindo à criança uma característica de inutilidade, que é encontrada na palavra “imprestável”. Apesar de parecerem apenas palavras soltas e que foram expressas em um momento de raiva, elas soam como uma agressão e uma criança dificilmente irá esquecer esse momento traumático. A criança pode não ter cumprido sua tarefa naquele momento, mas isso não significa que é uma pessoa imprestável.

Sabemos que nos momentos de raiva, podemos falar coisas que não diríamos se estivéssemos calmos e com um controle emocional adequado. Apesar disso, é necessário trabalhar a prática do autocontrole, já que, principalmente com as crianças, as palavras utilizadas devem ser medidas e avaliadas com ainda mais cautela do que com os adultos. Portanto, se a frase acima (que demonstra a insatisfação que você está sentindo de maneira ofensiva com a criança) fosse substituída por:

“Poxa, os brinquedos estão espalhados pela casa de novo? Você sabe que isso me deixa estressada, pois não gosto da casa bagunçada. Você poderia guardar, por favor?”

a comunicação ocorreria de maneira mais sútil e agradável, já que antes de julgar a criança e descontar raiva e insatisfação em cima dela, você está demonstrando sua insatisfação de maneira empática. Um diálogo seria estimulado e dessa maneira, os pais ou responsáveis poderiam ensinar e instruir de maneira mais respeitosa e equilibrada que é necessário guardar os brinquedos após o momento da brincadeira.

Ou seja, a Comunicação Não-Violenta é um conjunto de práticas mais empáticas, que podem ser incorporadas nas maneiras de se comunicar com o próximo.

O respeito é a base da comunicação não-violenta.

Comunicação Não-Violenta com as crianças: por onde começar?

No dia a dia com os pequenos, o estresse por conta da rotina pode resultar em diálogos violentos. A paciência já é uma virtude necessária para lidar corretamente com as crianças, porém ela deve ser ainda mais trabalhada quando ocorre uma situação que nos desagrada de alguma maneira.

Deixar os brinquedos espalhados no chão, responder de maneira rude, não obedecer a instruções e não realizar tarefas escolares e do cotidiano, são algumas atitudes que deixam os pais e responsáveis furiosos com as crianças. Em decorrência disso, diálogos agressivos podem ser gerados, já que foi assim que a maioria dos genitores foram ensinados a lidar com a resolução de dilemas.

Apesar de parecerem atos inofensivos, os gritos e expressões violentas podem ocasionar traumas nas crianças, que passam a se sentirem acuadas para conversar com os pais, já que têm medo deles.

A comunicação não-violenta preza por uma conversa empática com as crianças.

Portanto, para iniciar o processo de comunicação não-violenta com as crianças, são seguidos 4 passos:

1-Observação

O primeiro passo é observar o fato. Ouça, visualize e procure entender o que aconteceu. É importante ouvir sem avaliar ou julgar imediatamente, pois dessa maneira há uma maior chance de assimilar os fatos com maior veracidade.

2-Sentimento

Após observar o que aconteceu, procure ter consciência de seus sentimentos. Muitas vezes, reagimos ao que chega até nós sem identificar o que estamos sentindo e isso poder gerar consequências irreversíveis. Após observar os fatos, pare e reflita como está se sentindo em relação aquilo, para só depois pensar no que vai fazer a respeito. Se no momento estiver sentindo raiva, opte por não tomar nenhuma atitude imediatamente, já que a raiva é passageira e provavelmente você irá se arrepender do que fez no futuro.

3-Necessidade

Após identificar o que sentiu, compreenda a sua necessidade (ou a do outro), pois por trás de todo sentimento há uma necessidade, algo que você quer que seja feito. No exemplo dos brinquedos espalhados pelo chão, a necessidades dos pais é que os filhos guardem os brinquedos, porém as crianças só irão entender isso, se o desejo for expresso de maneira clara e não por meio de gritos e ofensas.

4-Pedido

O pedido é o que você comunica ao próximo o que você gostaria que ele fizesse e quanto mais claro ele for, mais rápido poderá ser atendido. Com as crianças é ainda mais importante ter clareza nos pedidos, pois para elas é mais complexo entender “meias palavras” ou subjetividade.

Portanto, esses 4 pontos auxiliam a comunicação não só com as crianças, mas com todos a nossa volta. No exemplo dos brinquedos, podemos encontrar os 4 tópicos:

“Poxa, os brinquedos estão espalhados pela casa de novo? (Observação) Você sabe que isso me deixa estressada (Sentimento), pois não gosto da casa bagunçada (Necessidade). Você poderia guardar, por favor? (Pedido).”

Benefícios da Comunicação Não-Violenta

O ato de comunicar-se com o outro de maneira a enxergar as situações pela perspectiva dele, ou seja, agindo através da empatia, beneficia muito as relações humanas, pois fortalece vínculos e gera mais harmonia nos ambientes. Dentro das empresas, consensos são tomados mais rapidamente, nas escolas as crianças aprendem através da compreensão e são ensinadas a agirem em favor da paz e nas famílias a relação do dia-a-dia melhora muito, já que pequenas discussões irrelevantes são evitadas.

Portanto, busque colocar em prática os pilares da comunicação não-violenta no seu dia-a-dia e perceba como os grandes problemas de antes, podem tornar-se pequenos conflitos momentâneos que rapidamente poderão ser resolvidos.

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